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FundaMentol

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Tantas coisas aprendi...

Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os outros param, acordaria quando os outros dormem. Ouviria quando os outros falam, e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate!
Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto, não apenas o meu corpo, mas também a minha alma. Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas... Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.
Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor. Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar! A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria que aprender a voar sozinha. Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, o tem agarrado para sempre. Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa
maleta, infelizmente estarei a morrer...'

GABRIEL GARCIA MARQUEZ


não, é mais

sexta-feira, janeiro 21, 2005

O nascimento de venus

Foram exactamente quatro mil seiscentas e setenta e quatro gramas, de resinas epoxy, que coloquei no balde de 20 litros de cor indiferenciada, devido às muitas misturas que nele já foram feitas, principalmente misturas de tintas lavadas das máquinas tipográficas. Onde ao contrario do que é habitual, e, habitual neste caso são os muitos cadernos de papel pouco higiénico onde as letras de forma são impressas com tinta ora preta ora negra resultando numa espécie de livro/diário/ (confessionário/santuário)(orador interminável) de todas as dores/cores, mais a merda do abre cartas que sempre temos que ter à mão quando se lêem estes... ...depois de muitas mãos o conduzirem para o seu formato de livro, já vestido com capa e sobrecapa por causa do frio, com ilustrações a quatro e cinco cores em papel couché de gramagem generosa e páginas de texto impressas sobre papel todo ele especial e próprio por elegância, fragrância, leve e vaidoso por receber sobre a sua superfície pensamentos de tanta complexidade e sabedoria... Foi a mim que pediram para que, mais uma vez, zela-se pela sua conservação ora como especialista com provas dadas pelas gordas e sonoras gargalhadas, que ao longo dos séculos os muitos livros de sabedoria sempre me proporcionaram, principalmente madrugada dentro, neste caso 13 volumes mais caixas e erratas à parte, mais uma brochura grátis que explicava qualquer coisa sobre como encomendar o volume sem sair de casa, que vou começar a pincelar cuidadosamente para que nenhuma palavra ou imagem fique por resguardar da fúria destruidora do tempo

sexta-feira, janeiro 14, 2005

la chair du monde et son opacité

Estou deitado no meu poema. Estou universalmente so,
deitado de costas, com o nariz que aspira,
a boca que emudece,
o sexo negro no seu quieto pensamento.
Batem, sobem abrem, fecham,
gritam à volta da minha carne que é a complicada carne do poema.

Herberto Helder, La Cuiller dans la bouche


la chair du monde et son opacité

quinta-feira, janeiro 13, 2005


amarelo, azul, vermelho

terça-feira, janeiro 11, 2005

pólen de baunilha

Nuvens de pólen
em tardes escuras
ecoam dentro da caverna

Onde os corpos
em sorrisos de suor
se beijam
sem que nós o saibamos

Sobre o peito
Ouves,
o que nenhuma língua,
Som, ou melodia, podem
repetir

carrego-te ao colo
para fora onde
A tempestade
acende flores
que mostram o caminho

há saber e saber há ir e voltar

Saber te
A ti
Mostra
olhar vítreo

bacalhau voador
Espancor
tributos
Anarquicó-românticos

Eleanor
De portugal
Fissura rejeitada
Sobre a linha

Fronteira
Do corpo
Lugar da mente
Que é a única Que realmente

Estilete de madeira
Com que desenho Bacalhaus
que voam Sobre
molhos Espanhóis

De carapaus
De pontas aguçadas

Não corram
Sobre o desenho
Que fiz Esta manha
Para oferecer ao rei sol
Não sejam assim tão lua

segunda-feira, janeiro 10, 2005


o tele_fonema

quinta-feira, janeiro 06, 2005


tsunami 150 000...

terça-feira, janeiro 04, 2005

Sou aquele que
segura
a cadeira de madeira
polida

sem tempo

encosto a cara
as costas
e cerro os olhos

rodopio até
te fazer cair
para depois
me sentar

com um salto

Queres, anda, salta,
Olha, deixa lá

Ficamos só, assim,

Cheiro, luz, esquece,
queres, esquece,

amêndoas
é a amendoas que cheira, sabe,
sabes, tu sabes,

folha rasgada,
escrita com sapatos
arrancada do chão
onde

vá-lá não me atrases
hoje é a estreia,
logo eu, esquece,

unha, amarela,
chuchar,
à muito fumo,
os olhos ardem-me

tenho lágrimas
a correr ao contrario
batem-me nos óculos,
choras

vá-lá não
ligo, não, ligo,
queres, esquece

de novo
encosto a cabeça suavemente
à cadeira, cheiro, amêndoa,
esqueço-me