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FundaMentol

sexta-feira, fevereiro 25, 2005


foto de yan saudek

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

levado pelo liquido

tenho arminhos
no pensamento
que estala
ao ritmo do coração

como um cavaleiro
primordial e iniciático
procurei o cálice
sempre levado pelo liquido
que transborda

e na encruzilhada,
daquela manhã de céu, sol e terra
virei à esquerda
com duas coisas em mente
a direita é igualmente deliciosa
e olhei com toda a atenção
para cima e depois para baixo

passeio agora sem livro
sem o livro, aquele,
que não se vê
mas que é

sábado, fevereiro 19, 2005


paulino vieira, cabo verde/Poesia/Península


numa noite de tantas linguas, corpos, linguas


alberto miranda, o anti-colestrol


Filo-Café: Poesia e Península
18 Fevereiro 2005 – 23h
Espaço-Café da Sociedade Guilherme Cossoul

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Sempre

Eu não sou um
sou mais que um
um está sempre comigo
o outro ocasionalmente
vem visitar-me
por vezes trás companhia
outras vezes vem sozinho
às vezes até venho com ele
mas ir não, nunca vou

felicidades, fica bem até depois
depois, nunca sozinho
sempre com a companhia

do teu Sempre,

de madrugada olhos nos olhos
abrir a janela
para deixar entrar o cheiro da noite,
a água de rio onde me banho, duas vezes
com navios a apitar e tudo

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

tenho pedaços de pele seca
agarrados ao meu pensamento
de réptil

essa luz que se forma
sempre que a memória
parece tanto o presente

o aroma que exala
das palavras
é tangerina de gomas
feitas com acuçar de amarar
que pensas que nunca comi?

e lambi os dedos um por um
até ficar só,
com o teu olhar
cravado na parte anterior do crânio

domingo, fevereiro 13, 2005


Der Himmel Über Berlin/As Asas do Desejo

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

habitar o mar

há um pano branco
de linho
onde rasgo
histórias pretas

de ninfas azuis bébé
e faunos verdes
e duendes de florestas
onde jamais quis habitar

era mar que me trazia

sempre de volta
onde nunca cheguei

o rasgo mais profundo
não foi meu
mas existe, existe
e agora, quando olho
sou eu quem me apareço

Luar

Zohía:
- Quando a lua cumpre o seu ciclo, tronando-se de novo invisível, aparecem as sombras de animais sobre a pele, pequenos cadáveres indecifráveis. Outras vezes, é um cavalo de jade em chamas e uma íbis de vidro que se libertam do meu sangue e da minha loucura. Fico quieta, amedrontada, até eles se soltarem de mim e seguirem pela noite, ao encontro das coisas perecíveis e do mundo. Mas tenho medo de que nunca mais regrassem. Deliro...

Nemú:
- Há tempos, aprisionei o tigre olhos de rubi numa imagem de papel. Levei-o para dentro do meu sonhos e passei noites inteiras a domá-lo, e agora ele anda à solta, muito manso, sedutor, por toda a casa. Já não sonho com ele, sonho com
Beno. Mas o tigre só é verdadeiramente visível quando me dói alguma coisa e os espelhos me prendem o olhar. Pergunto-me sempre que estranho sonho me terá acordado...

Zohía:
- As minhas feras são de neve, injectáveis, muito ferozes se não lhes forneço uma boa dose de vida. E vou perdendo as forças a alimentá-las. No entanto, ainda não enlouqueci, e consigo que vivam calmas, dóceis. Até quando? não sei. Só o meu corpo continua enjaulado. E, quando o solto, ele foge com as feras e é a loucura, apesar de Alaíno me amar, de me trazer sempre de regresso a mim mesma...

Alba:
- Kid... és o único tigre da noite que me é familiar. Caças de esquina, deixas vestígios sangrentos de pêlos arrancados, marcas de esperma sobre os corpos; uma sedução terrível envolve, e aniquila, aqueles que se deixaram tocar...

Kid:
- A minha marca é feita de temores. Reparem como nenhuma parte do meu corpo está verdadeiramente viva. Há séculos que durmo, ou acordo, com o regresso dos animais de Zohía. O pior é que há sempre um que não volta. Perdeu-se no deserto ou na espessura da noite, extraviou-se como eu me extravio...

Nemú:
- Devo ter avistado um mar, quando era criança. Por isso, às vezes ponho-me a imaginá-lo. Mas a noite levanta-se e abre caminho ao meu corpo, e eu vou por esse caminho ladeado de olhares que irradiam uma claridade de ilhas e astros. Uma claridade estranha de ossos. Sinto-me camaleão mensageiro dos deuses...

Kid:
- Nenhum caminho me é estranho, Nemú. Conheço esses olhares que nos espiam, prontos a devorar-nos. Lembrar-te que o camaleão foi ludibriado pelo lagarto. São os cegos e os mortos, o estrume da luz, que nos perseguem. Por isso eles fortificam as raízes de tudo o que está vivo, e escoam-se na seiva das coisas. fazem-nas estremecer. E nós ascendemos ao medo, ao grande medo, sem darmos por isso.

Zohía:
- Um dia, quando a loucura chegar vestida dos pés à cabeça com uma pano feito de pássaros, já não estarei aqui. Avançarei, azul, num pestanejar de asas silenciosas e num cântico sibilino amarei ainda Alaíno. Mas já não consigo desejar nada, quero ter tudo imediatamente, enquanto posso saber que tenho que possuo... respiro o mínimo possível para ver se consigo adiar o meu próprio inferno...

Nemú:
- Quanto tempo durará a noite do coração? E o lume alimentar-se-á de que lábios? Sinto que se aproxima de mim um destino que não escolhi. O amor corrói-me a pele, mistura-se ao desejo e não me deixa sossegar, nem mesmo quando durmo - mas o amor não é eterno. Deve ser avassaladora e medonha a última noite de amor...

Kid:
- Vem aí a manhã e nós já nos despimos da estéril alegria. Tudo o que dissermos situa-se, algures, onde em breve estaremos. Longe, muito longe daqui. Resta-nos caminhar pela manhã e pelas palavras desamparadas e tristes, e avançar, avançar sem descanso, como espectros, sem sabermos exactamente em que abismos pereceremos...

Nemú:
- Estou sempre a reconstruir um mar, e o Kid poderia reconstruir os dias, e a Zohía o movimento perdido da memória que há-de permanecer de nós. E tu, Alba, queres espalhar a cinza que nos alimentará? e tu Beno, encarregar-te-ás de sepultar nas palavras a sombra tremeluzente de nossos corpos? E a ilusão de felicidade que nos vem dos gestos inacabados...

Zohía:
- Um pequeno corte na palma da mão talvez seja suficiente para nos lembrarmos de tudo o que perdemos. Raramente estou viva... Alba: - Onde o meu corpo sobrevive um outro morreu. Mas guardo em mim todas as mãos que me tocaram e amaram, e por isso mesmo me ergo e vou pela destruição dos dias. Raramente estou morta...

Nemú:
- Amo Beno, e penso em mim como se pensasse nele, e nas suas mãos guardo a saudade que das minhas hei-de sentir...

Kid:
- Vou beber mais e mais, para me aniquilar. Está a amanhecer...
e se fôssemos apanhar o comboio para ir ver o mar? Dormiríamos nas dunas, como num sonho...

Al Berto

quinta-feira, fevereiro 03, 2005


durante foi muito mais do que esperava, depois, depois foi mesmo muito muito mais

terça-feira, fevereiro 01, 2005


cair contra o corpo