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FundaMentol

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Barca de actos

sei-me incapaz
de levar a barca de actos
até a margem oposta
de onde parti

sei que chegará
ao meio do lago
que brilha, reflexos
brancos avermelhados
e negros azuis

vou estrear as minhas asas novas
tingidas de branco sujo
das danças que tanto insistimos
em fazer

a primeira volta, lenta
serve, para ver a barca
que agora me parece
uma ridícula jangada de naufrago
com todos os objectos
que afinal quase a faziam afundar

o voo rasante que faço
na copa das árvores
criando um sonoro alvoroço
no ar quente da noite

gela a minha face
em dois pequenos rios
que se soltam dos meus olhos
juntando-se assim a tantos
que transformaram
este pedaço de terra inerte
num lago de águas malditas

a perícia com que me dirijo direitinho

para onde quero ir
faz com que tenha valido a pena
cada martelada sentida
quando, com a força que ainda restava
foste cravando pregos minerais
para que as asas ficassem bem presas
nas costas
que como é bem sabido são a parte do corpo
destinada as tarefas mais pesadas

e sim sou aquele ponto de memória
obscura e dissonante que à noite
tenta em uivos guturais
dizer nomes de massa gordurenta e açucarada

é o último prego que se solta mas este,
ao contrário